" Basicamente, se nós queremos uma escola diferente, se queremos mudar a escola, ou se simplesmente, não estamos gostando da nossa prática, isto significa que devemos estar disponíveis, desejosos, querendo, assumindo, enfrentando e pensando..."
Madalena Freire



sexta-feira, 19 de abril de 2013

Caminhos para ensinar Arte: do barro ao teclado


Outro dia, durante as aulas de artes no Colégio de Aplicação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), os alunos praticavam uma atividade no computador e um deles levantou a mão e perguntou: professora, quando vamos voltar a fazer cerâmica?
Esta história, contada pela professora Simone Fogazzi, coordenadora do Polo Arte na Escola na UFRGS, revela um novo patamar no debate sobre o uso das tecnologias de informação e comunicação na sala de aula. Ninguém discute mais se as chamadas TICs devem ser incorporadas à rotina escolar. A questão central agora é pensar como e quando utilizá-las para assegurar um aprendizado efetivo. Será que os alunos, mesmo sendo nativos digitais, não precisam tocar algo a mais, além de uma tela de vidro? Outra questão crucial nesta discussão: como preparar as professoras e os professores para esta verdadeira revolução no ensino?
Simone Fogazzi relata que trabalha desde 2005 com as novas tecnologias, mas as atividades experimentaram um impulso há dois anos, quando os alunos ganharam cada um o "uquinha", como é chamado o computador do Projeto UCA (Um Computador por Aluno), do Governo Federal. "No começo foi uma grande novidade trabalhar o computador como ferramenta. Depois de um tempo, eles ficaram um pouco cansados e perguntaram sobre as aulas de cerâmica", relata a coordenadora do Polo Arte na Escola na UFRGS.
Na opinião de Paulo Blikstein, professor da Escola de Educação e do Departamento de Ciências da Computação da Universidade de Stanford e diretor do Transformative Learning Technologies Lab, no caso do ensino de Artes o mais significativo é a criação e a qualidade do produto artístico. "O aluno não precisa interagir apenas com uma tela de vidro. É preciso valorizar os conceitos", ressalta. Blikstein sugere aos professores que proponham aos alunos elaborar produtos mistos, digitais e analógicos, com várias texturas e conexões com outras disciplinas.
Ele revela que a nova geração da tecnologia educacional permite aos alunos terem a dimensão do contato físico. "Já é possível ter máquinas que imprimem em 3D e em breve teremos tesouras digitais que permitirão cortar em qualquer forma e direção", afirma.
Na visão do professor de comunicação visual da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP), Luli Radfaher, é importante o professor descobrir onde os alunos estão tecnologicamente e mostrar a eles que há vida além do mundo virtual. "Este aluno que pediu a cerâmica mostra que a interface digital não é maleável quanto é o barro", afirma.
Ele sustenta que o professor precisa ser parceiro do aluno. "Se ele não conhecer todas as ferramentas, deve debater a novidade com os alunos. Compartilhar é extremamente visual", diz.
A coordenadora do Polo Arte na Escola na UFRGS constata que os "professores perderam o medo" da tecnologia e que nos Grupos de Estudo do Polo dominam a internet e as técnicas de vídeos, fotografias e anima- ções. "O professor não precisa saber tudo de tecnologia. O importante é pesquisar bastante. A internet temvários cursos e tutoriais que ajudam muito os professores", afirma Simone Fogazzi.
Hoje, um dos principais projetos de capacitação do professor nesta área é o Proinfo - Programa Nacional de Tecnologia Educacional, cujo objetivo é promover o uso pedagógico da informática na rede pública. Também estão disponíveis na internet vários sites com orientações para os docentes, como o Portal do Professor, Domínio Público, TV Escola e Banco Internacional de Objetos Educacionais. Todos são gratuitos e têm acesso livre. Alguns Estados, como São Paulo, Rio de Janeiro e Pernambuco, já estão comprando tablets e computadores para os professores e oferecendo cursos de capacitação.
A professora Adriana Beatriz Raach, de Porto Alegre, fez sua segunda especialização, Mídias na Educação, pela Universidade Aberta do Brasil, sistema integrado por instituições públicas no modelo a distância. "Foi um excelente curso, praticamente todas as aulas nós usamos o Proinfo", afirma.
Segundo ela, que leciona em duas escolas e participa do Grupo de Estudos no Polo Arte na Escola UFRGS, os professores precisam planejar bem o uso das TICs nas aulas de Artes. "Para ser uma ação pedagógica e assim garantir a aprendizagem, o professor tem que ter um bom planejamento e clareza do que quer realizar", sugere.
Na Universidade Regional de Blumenau (Furb), o interesse dos professores pelas TICs vem crescendo, constata a professora de Artes, Lindamir Jungue. Segundo ela, só no primeiro semestre de 2012, o Polo Furb emprestou materiais ligados às TICs para mais de 320 professores da rede municipal de Blumenau e dos municípios vizinhos de Indaial, Gaspar e Schroeder. De documentários da DVDteca Arte na Escola a materiais criados pelos alunos na disciplina de Arte e Tecnologia. Em um curso de formação para uso de TICs realizado este ano em Blumenau, 163 professores compareceram.
Na opinião dela, as TIcs são "instrumentos ou ferramentas para que o professor faça algo novo, criativo, com outras possibilidades de aprendizagem". Lindamir frisa que as novas tecnologias podem ser adotadas em todas as etapas do ensino e servem para qualquer linguagem da arte. "O que diferencia é a quantidade, o que e como usar essa tecnologia", diz.
A coordenadora do Polo Arte na Escola na Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF), Danuza da Cunha Rangel, é favorável ao uso da TCIs desde a Educação Infantil. "Os bebês do passado brincavam com chocalhos; os de hoje brincam com chocalhos e controles remotos. Sem as TICs, os processos educacionais tendem a perpetuar o anacronismo existente entre a escola e o mundo do lado de fora", alerta.
Na visão dela, "todo professor precisa saber que a tecnologia é indispensável à vida humana e que o avanço tecnológico está profundamente ligado à produção e à aquisição de conhecimentos, bem como ao desenvolvimento de lógicas e sensibilidades".
Danuza Rangel ressalta que o fato de muitos estudantes enxergarem a tecnologia como diversão e lazer é uma vantagem. "É um fator extremamente positivo e facilitador do processo de introdução dessas novas tecnologias nas práticas pedagógicas. Com essa tendência, normalmente se consegue uma adesão instantânea a qualquer proposta de ensino-aprendizagem que envolva o uso de TICs, sobretudo no ensino da arte", diz a coordenadora do Polo UENF.
Extraído do Boletim: Arte na Escola.org

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